O corpo

Diego Perez
1 min readJun 13, 2023

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8 de junho.

Corpus Christi.

Ando alguns metros numa manhã de poucos raios de sol.

Entre a minha casa e o mercado, algumas ligações de felicitações.

Não muitas, mas das pessoas que importam. Das pessoas que por muito tempo negligenciei o afeto e hoje, cansado, aos recém completos 32, começo a compreender e a apreciar.

Antes de completar meu breve percurso, meus joelhos doem.

Manco.

Queria tornar esse momento poético. Metaforizar sobre o peso das responsabilidades, dos fracassos, dos amores vividos e dos sonhos perdidos sobre o corpo e os joelhos que custam a se sustentar.

Mas antes que possa entrar na pararia do mercado e comprar um solitário bolo de aniversário, tudo o que tenho em mãos e membros é a dor calcinante de viver.

Sento num ponto de ônibus.

9:30.

Horário do parto.

Ao longe, avisto as jovens crianças confeccionando os tapetes de Corpus Christi.

De perto, busco avistar ao menos um momento de paz.

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Diego Perez

Doutorando em Letras pela UFRJ, autor da newsletter [MAGAZINE], dos zines “Viçosa” (2020) e “IDEIAFIXA” (2021) e colaborador na revista Terceyro Mundo.