O corpo
8 de junho.
Corpus Christi.
Ando alguns metros numa manhã de poucos raios de sol.
Entre a minha casa e o mercado, algumas ligações de felicitações.
Não muitas, mas das pessoas que importam. Das pessoas que por muito tempo negligenciei o afeto e hoje, cansado, aos recém completos 32, começo a compreender e a apreciar.
Antes de completar meu breve percurso, meus joelhos doem.
Manco.
Queria tornar esse momento poético. Metaforizar sobre o peso das responsabilidades, dos fracassos, dos amores vividos e dos sonhos perdidos sobre o corpo e os joelhos que custam a se sustentar.
Mas antes que possa entrar na pararia do mercado e comprar um solitário bolo de aniversário, tudo o que tenho em mãos e membros é a dor calcinante de viver.
Sento num ponto de ônibus.
9:30.
Horário do parto.
Ao longe, avisto as jovens crianças confeccionando os tapetes de Corpus Christi.
De perto, busco avistar ao menos um momento de paz.