Sexo, cerveja e bolo

Diego Perez
2 min readJul 1, 2021

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I

Muito supus o que esse aniversário significaria. Datas redondas tendem a trazer com elas pensamentos profundos e, de fato, refleti intensamente nos meses prévios ao fatídico dia 8. Contudo, há algumas semanas da data, atarefado com uma qualificação iminente e projetos literários urgentes, pouco me importava o significado profundo da comemoração. A realidade parece cobrar um preço mais cotidiano às contemplações.

II

O dia passa como uma montanha russa. As poucas expectativas que tinha - sexo, bolo e cerveja - são quebradas logo de cara: namorada longe, cerveja barata e bolo vegano para o cardápio noturno. Não fosse o bolo reserva que minha namorada me manda de surpresa no meio da tarde, acompanhado de algumas puro maltes; não fosse as felicitações pontuais mas precisas durante a tarde; não fosse o fato de ser amado, mesmo que não por uma multidão (ou especialmente por isso)...

III

Balões, chapéu, música. Aniversário irônico, como sempre, mas no apagar das velinhas, junto a minha família muito pouco irônica, sinto o ridículo da situação.

Até quando preciso esconder os meus anseios de felicidade por trás dessa máscara?

“Diga xis”.

IV

30 anos. Me imputei esse estranho dever de sempre escrever textos para aniversários mas não sei se tenho muito mais o que dizer, indiferente se são 30 ou não.

V

00:01. 9 de junho.

Recolho os papéis de doces. Reponho a mesa e me sento à revisar a apresentação pra qualificação, mas não tiro os balões. Esses podem ficar um pouco mais para que de quando em quando, num 7 de agosto, 20 de outubro ou 1 de janeiro, meus olhos atentos se desatentarem a observá-los e me lembrar de que a poesia da vida está sempre ali, a um soslayo de distância.

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Diego Perez

Doutorando em Letras pela UFRJ, autor da newsletter [MAGAZINE], dos zines “Viçosa” (2020) e “IDEIAFIXA” (2021) e colaborador na revista Terceyro Mundo.